"Simples Assim"
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- 28 de jul. de 2020
- 2 min de leitura
por Isabel Magalhães

Quando eu era pequena o protótipo de uma mulher de 50 anos era uma senhora, geralmente dona de casa, que se vestia de maneira discreta, cuidava do marido e se preparava para casar os filhos.
Sua vaidade se restringia a ter uma casa arrumada, filhos bem criados e um marido bem sucedido.
Lógico, que debaixo desta vidinha insossa, onde a vida sexual já não estava presente no leito matrimonial, às vezes, a fantasia ainda estava viva e aquela senhora respeitada tinha as suas tardes de messalina com o quitandeiro, o padre, o grande amigo da família. Histórias guardadas a sete chaves, com culpa espiada no confessionário aos sábados.
Depois da liberação das mulheres nos anos 60/70, as coisas começaram a mudar.
Veio a lei do divórcio, a pílula e Leila Diniz com a sua celebre frase “Dou para todo mundo mas não dou para qualquer um”. E assim a minha geração virou mulher nas areias de Ipanema, batendo palmas para o pôr do sol, sem usar soutien e de mini saia.
Fazíamos sexo sem culpa. Uma cantada bem dada, um poema no ouvido, uma boa pegada nos levava para cama.
Era gostoso ser olhada, desejada, paquerada. Nem todos os homens sabiam fazer isso direito, “Não eram do ramo” como dizíamos, por isso, geralmente não eram bem sucedidos.
Assim foi indo a minha geração, às vezes casando e sendo feliz, outras vezes casando e descasando várias vezes, algumas tendo filhos de produções independentes, outras mudando de opção sexual e chegamos aos 60.
Para algumas, a profissão se tornou o eixo central da vida e começam agora a desacelerar, umas deprimiram com o passar dos anos, outras continuam na pista, namorando, dançando, viajando e ainda sonhando. Não foi fácil bancar essas novidades da vida. Exigiu que fôssemos competentes, inteligentes, boas mães, companheiras e boas de cama. Brigamos pela tripla jornada de trabalho.
Agora, ainda jovens, segundo a WHO (World Health Organization) que diz que até aos 65 anos somos “Young people”, fomos confrontadas com a nova geração de mulheres neste embate das francesas e americanas.
Embolaram a questão do assédio, do estupro do pertencimento do nosso corpo com uma simples cantada
Tudo muito justo, muito coerente, politicamente certo mas acho que deve-se ter cuidado com esta linha tênue entre o assédio e uma cantada gostosa.
Foi um longo caminho para chegar aqui e ser uma avó respeitada mas ainda desejada e cantada.
Por Isabel Magalhães
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