
No último dia 22/02, cerca de noventa pessoas ligadas ao movimento suprapartidário Roda Democrática tiveram um encontro com o Ex-Presidente Fernando Henrique, no Instituto FHC, em São Paulo.
Aos 86 anos, Fernando Henrique se mantém atualizado dos novos movimentos políticos do mundo. Fala sem nostalgia de ideias e do futuro. Leitor voraz citou entre outros, o novo livro do sociólogo catalão, Manuel Castells, “Ruptura” que abordar a crise da democracia liberal.
Durante cerca de uma hora e meia, ele fez algumas análises precisas:
A democracia implica necessariamente em tolerância com o diferente. É preciso sempre ouvir o outro.
Ser progressista é uma visão de mundo, uma visão moderna, de quem entende as profundas mudanças pelas quais o mundo está passando.
Aa globalização e a tecnologia mudaram o mundo. A acumulação do capital se deslocou para as áreas das novas tecnologias. Hoje os novos milionários são do mundo digital, da criatividade, não da produção convencional.
A tecnologia é concentradora de renda o que aumentará mais a desigualdade social.
Grande parte da população do mundo inteiro ficará a margem da produção de riquezas.
A sociedade antes se marcava pela divisão entre classes, e em geral os partidos políticos representavam ou tentavam representar cada classe social. A sociedade, hoje, se divide por questões identitárias – os negros, as mulheres, os LGTB. Como então fazer política, em um mundo dividido entre identidades diferentes, se política se faz com a tentativa de uniões?
A discussão política terá de permear todos esse segmentos.
Na estrutura política brasileira é preciso que o presidente da República saiba lidar com o Congresso. Quem não sabe lidar com o Congresso, cai.
Quando elaboramos a Constituição erramos em muitas coisas. Foi natural: depois da ditadura, só queríamos dar todas as liberdades.
O Brasil nos últimos anos parou, estancou na economia, na produção de riquezas, e se isolou do resto do mundo. Não acompanhou as mudanças da economia e deixou de ser importante para os demais países. Nem sequer para os países da América do Sul somos importantes.
O próximo governo será necessariamente de transição. O modelo que vinha até agora se esgotou.
Houve um desregramento geral do país, ao longo das últimas décadas, e isso tem a ver com a explosão populacional. Temos hoje 200 milhões de habitantes, e desregrou tudo. Hoje não se respeita mais o professor – na periferia, o professor corre o risco de apanhar dos alunos.
No atual governo, o Ministro Mendonça Filho tem um mérito na educação que é a reforma do ensino médio.
Não é o PT, não é a esquerda que é forte no Nordeste – é a pobreza.
Nós estamos do lado da sociedade, e não do mercado.
A novela da TV Globo está à frente dos partidos políticos. Os partidos têm enorme dificuldade para falar dos problemas da vida, como, por exemplo, as drogas. (O aborto, a pena de morte.) O partidos têm medo do que é controvertido.
Política é o concreto. Tese é coisa de acadêmico.
O povo é pragmático – o povo sabe o que quer.
O líder não tem que seguir o povo – assim ele não é líder. O líder tem que ir junto com o povo, e ser capaz de mostrar ao povo como se conquista o que ele está querendo.
As práticas que eram usuais passaram no passado hoje são consideradas crime grave – e isso é complexo. É necessário que a Justiça estabeleça o que é crime e o que não é crime, e as diferentes graduações.
Ética, violência, emprego. Esses serão os grandes temas da eleição de 2018.
O perigo de agora é as pessoas que só querem ordem. Só ordem é Bolsonaro.
No mundo contemporâneo tudo aparece. Não dá para esconder nada. No meio de tanta fake news, a verdade sempre aparece.
Pesquisa recente mostrou que apenas quatro partidos são conhecidos dos brasileiros: PMDB,PT, PSDB e surpreendentemente , o PSOL.